segunda-feira, 22 de março de 2010

Nas aulas teóricas de comunicação o discurso insistente dos professores em relação ao êxito do jornalismo é sempre o mesmo: Neutralidade. A busca pela neutralidade é incansável e inalcançavel, pelo motivo óbvio de que todos nós somos parte de uma comunidade com a sua determinada cultura e somos sempre suscetíveis a estar de um lado do muro. Por isso o ideal da prática jornalística é chegar o mais próximo possível do imparcial e ela acontece através da objetividade.
Claro que sempre que existe a parcialidade nas reportagens é do exclusivo motivo de interesse de envolvidos das "empresas" de notícias. A Veja é uma delas, mas dessa vez foi um desleixo e preconceito com um assunto polêmico e de grande destaque.

Daime, ignorância e preconceito

Por Luciano Martins Costa em 22/3/2010

Comentário para o programa radiofônico do OI, 22/3/2010

Duas das mais lidas revistas semanais de informação, Veja e Época, trazem em suas capas reportagens vinculando o assassinato do cartunista Glauco e seu filho Raoni ao uso da ayahuasca, a beberagem utilizada por indígenas e caboclos da Amazônia Ocidental e que faz parte dos rituais do Santo Daime e outras seitas originadas na região.

Mas há uma diferença fundamental entre os títulos nas capas das duas revistas e também entre suas reportagens internas.

Época abre com a pergunta: "O daime provocou o crime?" – e observa que "a morte do cartunista Glauco reacende o debate sobre o uso da droga indígena ayahuasca em rituais religiosos".

Veja parece não ter dúvidas: sob o título "O psicótico e o Daime", questiona "até que ponto se justifica a tolerância com uma droga alucinógena usada em rituais de uma seita".

Para a revista da Editora Abril, não há o que discutir: foi a ingestão da beberagem que levou o jovem Carlos Eduardo Sundfeld Nunes, o Cadu, a matar o cartunista da Folha de S.Paulo e seu filho de 25 anos, a tiros de pistola.

Época destaca que Cadu vinha apresentando sinais de distúrbios psíquicos nos últimos três anos, aponta indícios de que a família não atuou com o rigor necessário para levá-lo a tratamento e pondera fortemente que ele era usuário de drogas pesadas.

Além disso, a revista do grupo Globo ouviu representantes do Santo Daime no Acre, onde o uso ritualístico da ayahuasca nunca produziu episódios de violência e não costuma ser vinculado a atos antissociais.

Para Veja, porém, trata-se de uma droga poderosa que precisa ser proscrita, ou no mínimo fiscalizada pelo governo.

Tema polêmico

Entre as duas reportagens, nota-se o cuidado maior de Época em também verificar a responsabilidade de uma das vítimas.

Glauco, o cartunista da Folha, se considerava e era considerado pelos adeptos de seu culto como uma espécie de guru do Santo Daime.

Um dos responsáveis pela expansão do uso da ayahuasca para fora de seu ambiente nativo, ele mantinha e dirigia uma comunidade religiosa na região metropolitana de São Paulo, onde ministrava a bebida a fiéis e visitantes.

Sua tolerância com relação à maconha era conhecida. Sua posição com relação às drogas pode ser observada em alguns de seus personagens, mas esse é tema proibido.

Afinal, no Brasil, não se pode fazer observações sobre atitudes, preferências ou comportamentos de artistas e jornalistas, sob pena de cair apedrejado sob a acusação de ataque à liberdade de expressão.

Diante do tema polêmico, pouco conhecido, como é a bebida usada por comunidades amazônicas, Época procura distribuir responsabilidades. Veja embarca no preconceito e condena aquilo que desconhece.



Texto publicado no site Observatório da Imprensa





sexta-feira, 5 de março de 2010

O futebol

A história do futebol, é uma triste viagem do prazer ao dever. Ao mesmo tempo em que o esporte se tornou indústria, foi desterrando a beleza que nasce da alegria de jogar só pelo prazer de jogar. Nesse mundo de início de século, o futebol profissional condena o que é inútil, e é inútil o que não é rentável. Ninguém ganha nada com essa locura que faz com que o homem seja menino por um momento, jogando como o menino que brinca com o balão de gás e como o gato brinca com o novelo de lã: bailarino que dança com uma bola leve com um balão que sobe ao ar e o novelo que roda, jogando sem saber que joga, sem motivo, sem relógio e sem juiz.
O jogo se transformou em espetáculo, com poucos protagonistas e muitos espectadores, futebol para olhar, e o espetáculo se transformou num dos negócios mais lucrativos do mundo, que não é organizado para ser jogado, mas para impedir que se jogue. A tecnocracia do esporte profissional foi impondo um futebol de pura velocidade e muita força, que renuncia à alegria, atrofia a fantasia e proíbe a ousadia.
Por sorte ainda aparecem nos campos, embora muito de vez enquando, algum atrevido que sai do roteiro e comete o disparate de driblar o time adversário inteirinho, além do juiz e do público das arquibancadas, pelo puro prazer do corpo que se lança na proibida aventura da liberdade.

Aos meninos de Calella da Costa.
Acabavam de jogar uma pelada, e cantavam:
"Ganamos, perdimos, igual nos divertimos"
Eduardo Galeano

98 dias...

quinta-feira, 4 de março de 2010

Em um momento de ócio, não necessariamente criativo, num fim de tarde de quinta-feira, eu lembrei por um instante, que um dia eu criei um blog e nele eu costumava escrever, nem sempre, mas o suficiente para não criar moscas. Se ele tinha leitores não eram muitos, uma que outra vez aparecia um comentário de amigos, por sorte de outros, o que era sempre mais gratificante. Um dia esse blog criou moscas e o que era pouco visitado tornou-se esquecido, nem mesmo eu dava o ar da graça. Da mesma forma como ele foi esquecido, hoje quinta-feira, por algum motivo pouco interessante ele foi lembrado para começar uma nova fase de textos interessantes ou não, com comentários ou não, de amigos ou não.


Vida longa ao meu blog.