terça-feira, 25 de novembro de 2008

Pois é.

O Brasil tem milhões de brasileiros que gastam sua energia distribuindo
ressentimentos passivos.

Olham o escândalo na televisão e exclamam 'que horror'.

Sabem do roubo do político e falam 'que vergonha'.

Vêem a fila de aposentados ao sol e comentam 'que absurdo'.

Assistem a uma quase pornografia no programa dominical de televisão e dizem 'que baixaria'.

Assustam-se com os ataques dos criminosos e choram 'que medo'. E pronto! Pois acho que precisamos de uma transição 'neste país'. Do ressentimento passivo à participação ativa'.

Pois recentemente estive em Porto Alegre, onde pude apreciar atitudes com as quais não estou acostumado, paulista/paulistano que sou.

Um regionalismo que simplesmente não existe na São Paulo que, sendo de
todos, não é de ninguém. No Rio Grande do Sul, palestrando num evento do Sindirádio, uma surpresa.

Abriram com o Hino Nacional.

Todos em pé, cantando.

Em seguida, o apresentador anunciou o Hino do Estado do Rio Grande do Sul.

Fiquei curioso. Como seria o hino?

Começa a tocar e, para minha surpresa, todo mundo cantando a letra!

'Como a aurora precursora /
do farol da divindade, /
foi o vinte de setembro /
o precursor da liberdade '

.
Em seguida um casal, sentado do meu lado, prepara um chimarrão.

Com garrafa de água quente e tudo.

E oferece aos que estão em volta.

Durante o evento, a cuia passa de mão em mão, até para mim eles oferecem.

E eu fico pasmo. Todos colocando a boca na bomba, mesmo pessoas que não se conhecem. Aquilo cria um espírito de comunidade ao qual eu, paulista, não estou acostumado.

Desde que saí de Bauru, nos anos setenta, não sei mais o que é 'comunidade'.

Fiquei imaginando quem é que sabe cantar o hino de São Paulo.

Aliás, você sabia que São Paulo tem hino? Pois é...

Foi então que me deu um estalo.

Sabe como é que os 'ressentimentos passivos' se transformarão em participação ativa?

De onde virá o grito de 'basta' contra os escândalos, a corrupção e o deboche que tomaram conta do Brasil?

De São Paulo é que não será.

Esse grito exige consciência coletiva, algo que há muito não existe em São Paulo.

Os paulistas perderam a capacidade de mobilização. Não têm mais interesse
por sair às ruas contra a corrupção.

São Paulo é um grande campo de refugiados, sem personalidade, sem cultura própria, sem 'liga'.

Cada um por si e o todo que se dane.

E isso é até compreensível numa cidade com 12 milhões de habitantes.

Penso que o grito - se vier - só poderá partir das comunidades que ainda têm essa 'liga'. A mesma que eu vi em Porto Alegre.

Algo me diz que mais uma vez os gaúchos é que levantarão a bandeira. Que buscarão em suas raízes a indignação que não se encontra mais em São Paulo.

Que venham, pois. Com orgulho me juntarei a eles.

De minha parte, eu acrescentaria, ainda:

'...Sirvam nossas façanhas, de modelo a toda terra...'


Arnaldo Jabor

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Previna-se!

Hoje em dia, tudo depende do ponto de vista. Depende da forma como você vê as coisas e então a partir daí interpreta elas na sua vida. Podemos usar simples exemplos que acontecem todos os dias para entender como funciona: Assaltos, violência, sofrimentos, perdas ou qualquer algo do gênero são coisas normais da vida urbana, com total razão consideradas negativas, mas isso a partir de um ponto de vista. Se você assumir outra visão sobre o caso , talvez o ocorrido não seja um azar, mas, uma bênção.
- é um assalto! roubam seu carro e na confusão da fuga, você é baleado à queima roupa, nada grave, além do susto - a primeira e permanente impressão é a pior, sem seu carro, com medo e ainda por cima ferido. Isso é o seu ponto de vista, mas, você pode enxergar diferente - eu poderia ter levado uma bala no coração, estaria morto, a minha família e amigos estariam tristes. Como eu sou um cara de sorte! Afinal "vão-se os anéis, ficam-se os dedos".
- Fim de namoro, 5 anos com a mesma pessoa, você ainda a ama, está sofrendo demais. Entra em uma crise que parece não acabar. Se você visse as coisas de uma forma diferente... Você odiava a sua sogra, livrou-se daquela velha dos infernos, além disso ela não deixava você sair com os amigos e nunca mais você pode ver os filmes do 007, eram só aquelas comédias românticas pegajosas e aquela nova vizinha... sou um homem livre!
Enfim, inúmeras fatalidades que nos causam mal, de fato elas são ruins e a forma de você prevenir o sofrimento é vê-las de uma forma diferente, assim podemos viver melhor, num lugar onde nem tudo são rosas.

terça-feira, 18 de novembro de 2008

O que faz bem pra minha saúde!
Luis Fernando Veríssimo

Acho a maior graça. Tomate previne isso, cebola previne aquilo, chocolate faz bem, chocolate faz mal, um cálice diário de vinho não tem problema, qualquer gole de álcool é nocivo, tome água em abundância, mas não exagere...
Diante desta profusão de descobertas, acho mais seguro não mudar de hábitos.
Sei direitinho o que faz bem e o que faz mal pra minha saúde.
Prazer faz muito bem.
Dormir me deixa 0 km.
Ler um bom livro faz-me sentir novo em folha.
Viajar
me deixa tenso antes de embarcar, mas depois rejuvenesço uns cinco anos.
Viagens aéreas não me incham as pernas; incham-me o cérebro, volto cheio de idéias.
Brigar me provoca arritmia cardíaca.
Ver pessoas tendo acessos de estupidez me
embrulha o estômago.
Testemunhar gente jogando lata de cerveja pela janela do carro me faz perder toda a fé no ser humano.
E telejornais... os médicos deveriam proibir - como doem!
Caminhar faz bem, dançar faz bem, ficar em silêncio quando uma discussão está pegando fogo,
faz muito bem! Você exercita o autocontrole e ainda acorda no outro dia sem se sentir arrependido de nada.
Acordar de manhã arrependido do que disse ou do que fez ontem à noite é prejudicial à saúde!
E passar o resto do dia sem coragem para pedir
desculpas, pior ainda!
Não pedir perdão pelas nossas mancadas dá câncer, não há tomate ou mussarela que previna.
Ir ao cinema, conseguir um lugar central nas fileiras do fundo, não ter ninguém atrapalhando sua visão, nenhum celular tocando e o filme ser espetacular, uau!
Cinema é melhor pra saúde do que pipoca!
Conversa é melhor do que piada.
Exercício é melhor do que cirurgia.
Humor é melhor do que rancor.
Amigos são melhores do que gente influente.
Economia é melhor do que dívida.
Pergunta é melhor do que dúvida.
Sonhar é melhor do que nada!

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Era uma vez um cachorro.

Esse cachorro tinha um dono.

O seu dono lhe dava comida todos os dias, mas, o cachorro não comia.

O cachorro não comia e por isso estava enfraquecendo.

O dono achava estranho, pois a comida do seu cachorro sumia, mas, o cachorro não comia.

O dono repetia os seus deveres todos os dias e o cachorro também.

O dono lhe dava comida, mas o cachorro não comia.

Até que um dia, o cachorro morreu e o seu dono nunca mais lhe deu comida.

Na vizinhança não tinham outros cachorros, então o menino descalço que dormia, que dormia do lado de fora do portão, foi procurar outra rua.

Uma rua onde tivesse um cachorro, um cachorro que tivesse um dono, um dono que lhe desse comida, então o cachorro não comeria e o menino não teria mais fome.

"Quem bater primeira dobra do mar
Dá de lá bandeira qualquer
Aponta pra fé e rema..."

Los Hermanos

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Hoje a tarde eu conheci uma pessoa muito legal, na verdade eu já a conhecia, apenas de vista, mas, nunca tinha realmente sentado pra conversar com ela. 21 anos, mas mais rodado que muito cinquentão - no bom sentido -, já viajou pra vários lugares que eu nunca pensei em visitar, tudo na sorte, as vezes sem ter dinheiro nem para voltar pra casa. Me contou que foi para o sertão da Bahia e lá aprendeu muito do que ele é hoje. Também participou de uma comunidade alternativa e conseguiu um êxito que poucos conseguiriam.... ser expulso! vale lembrar que em comunidades alternativas não existem regras, julgamentos e afins.. afinal é alternativo. Banho de rio nu na beira da estrada, como ele diz: o pudor está na cabeça de quem olha! Histórias, histórias e mais histórias, umas contáveis outras não... valeu a tarde! valeu o dia!

Quantas oportunidades a gente perde de trocar experiências com os outros, todo mundo tem sempre algo para oferecer... Conheça as pessoas, converse com elas..

terça-feira, 11 de novembro de 2008

A ARTE PARA AS CRIANÇAS


Ela estava sentada numa cadeira alta, na frente de um prato de sopa que chegava à altura de seus olhos. Tinha o nariz enrugado e os dentes apertados e os braços cruzados. A mãe pediu ajuda:
- Conta uma história para ela, Onélio - pediu.
- Conta, você que é escritor...
E Onélio Jorge Cardoso, esgrimindo a colher de sopa, fez seu conto:
- Era uma vez um passarinho que não queria comer a comidinha. O passarinho tinha o biquinho fechadinho, fechadinho, e a mamãezinha dizia: "Você vai ficar anãozinho, passarinho, se não comer a comidinha." Mas o passarinho não ouvia a mamãezinha e não abria o biquinho...
E então a menina interrompeu:
- Que passarinho de merdinha - opinou.
Eduardo Galeano